O Sábio é imperturbável

“OS OITO VENTOS”

“Um homem verdadeiramente sábio não será arrebatado por nenhum dos oitos ventos: prosperidade, declínio, desgraça, honra, elogio, censura, sofrimento e prazer. Ele não se inflama com a prosperidade nem se desespera com o declínio. Os deuses celestes (1) seguramente protegerão aqueles que não se curvam diante dos oitos ventos. Porém, se alimentar um ressentimento infundado com relação ao seu lorde, eles não o protegerão, a despeito de todas as orações.”


EXPLANAÇÃO

Não caia na armadilha dos “oito ventos”


Shijo Kingo, discípulo fervoroso do Buda Nitiren Daishonin, passava por um momento complicado. Além disso, tinha um temperamento tempestivo e poderia colocar tudo a perder caso se descontrolasse e não percebesse a natureza essencial da sua situação. O Buda, então, escreveu a ele esta carta para ensinar ao discípulo a postura correta diante das “ventanias” da vida.
O Buda explica que ser sábio (viver plenamente e feliz) é não se iludir nem se precipitar quando soprarem os ventos positivos (prosperidade, honra, elogio e prazer) e também não se descontrolar, ficar irritado ou violento ante os ventos negativos (declínio, desgraça, censura ou sofrimento). Viva tendo o Nam-myoho-rengue-kyo como ponto central e nenhuma situação, seja positiva ou negativa, terá poder de abalar sua felicidade.


Ser inabalável é viver livre e sabiamente

O presidente Ikeda explica que “hoje em dia, essa atitude é como a de um bom pai dizendo ao filho para que viva sabiamente. Para nós, que abraçamos a Lei Mística, o verdadeiro sábio é aquele que mantém a fé inabalável em seu próprio potencial para o estado de Buda. [...] Independentemente de sermos ou não elogiados ou censurados, podemos usar tudo como uma oportunidade para obter mais êxitos. Por outro lado, se somos dominados pela ignorância, então tudo isso se torna motivo para cairmos nos maus caminhos. O coração é o mais importante”. (Terceira Civilização, edição no 436, dezembro de 2004, pág. 18).
Nitiren Daishonin fala de ventos porque no Japão as quatro estações são bem demarcadas e as mudanças climáticas abruptas são corriqueiras. A aparente calmaria de um vento fresco num dia de calor pode ser acompanhada de ventos gelados e devastadores. A jornada da vida pode ser comparada a essa caminhada em que as condições favoráveis ou desfavoráveis se manifestam constantemente como “ventos”. O Buda ensina que devemos elevar nossa condição de vida de forma que os “oito ventos”, que são condições externas, não influenciem nossa fé. Daishonin nos ensina a sermos imperturbáveis diante das oscilações do cotidiano.


CONTEXTO DO ESCRITO “OS OITO VENTOS”


O Buda Nitiren Daishonin escreveu “Os Oitos Ventos” no monte Minobu em 1277, aos 56 anos de idade, e endereçou-a a Shijo Kingo, um samurai e médico, que era seu seguidor em Kamakura. Em 1276, o lorde Ema reduziu o salário de Shijo Kingo e ameaçou privá-lo de seu feudo e transferi-lo para a remota província de Etigo se ele não desistisse de sua fé no Budismo. Embora afirmasse sua lealdade inabalável ao seu lorde em todos os assuntos seculares, com relação à fé, Kingo não concordou e recusou-se a deixar Kamakura. Com isso, a tensão aumentava. Nessa conjuntura, Nitiren Daishonin escreveu “Os Oito Ventos” para incentivá-lo.
O Buda enviou a Kingo diversas cartas, incentivando-o e orientando-o minuciosamente quanto ao seu comportamento. Por um lado, Shijo Kingo aparentava basear toda a sua conduta de vida tendo a prática da fé como prioridade. Porém, ao mesmo tempo, possuía temperamento forte e facilmente influenciável pelo sentimentalismo. Entretanto, sua reação emotiva perante às críticas e difamações de seus colegas samurais era consequência de um sentimento dominado por certos valores da sociedade e não com base na verdadeira Lei.


Tópicos adicionais

Exemplo dos Oito Ventos



1 — PROSPERIDADE

Abrange todas as formas de lucros e ganhos. Essa condição age fazendo com que a pessoa busque somente seu progresso material, profissional ou financeiro, afastando-se da prática da fé. Exemplos: “Voltarei a participar das atividades mais assiduamente depois de alcançar a vitória profissional” ou “Minha vida está indo de vento em popa. Não preciso me esforçar tanto na prática”.

2 — DECLÍNIO

Significa enfraquecimento e perda. Desmotivadas pelas condições de vida desfavoráveis, as pessoas tendem a perder a energia e a coragem, desviando-se da prática correta. Exemplos: “Puxa, tenho praticado tanto e nossa condição nunca melhora!” ou “Quando tiver melhores condições financeiras participarei mais ativamente das atividades...”

3 — HONRA

Essa condição ocorre quando as pessoas atingem a fama ou distinção social, fazendo-a tornar-se arrogante e autossuficiente. Exemplos: “Dediquei-me a vida inteira para chegar onde estou. As pessoas têm de me respeitar.” “Sou veterano na prática da fé. Ele está só começando e não entende nada.”



4 — DESGRAÇA

Essa condição ocorre quando a pessoa é marginalizada por outras. E também quando sofre intrigas e difamações. Exemplos: “Não vou àquela reunião porque eles só sabem falar mal dos outros.” “Não sou uma pessoa querida nesta organização. Por isso, quero transferência.”

5 — ELOGIO

Indica o louvor de forma manifesta, ou seja, quando somos diretamente elogiados por outros. Há pessoas que só se esforçam para receber elogios. Quando não são reconhecidas pelos seus esforços, desanimam na prática da fé e nas atividades. Exemplos: “Quero participar das atividades somente nesta organização, pois nela as pessoas reconhecem meus esforços”, ou “Não vou mais me dedicar, pois as pessoas não reconhecem meu empenho”.

6 — CENSURA

Repreendido ou insultado. Há pessoas que, ao serem repreendidas ou orientadas com rigorosidade, acabam desanimando ou se irritando com as outras, afastando-se delas e até da prática da fé. Exemplos: “Não gostei de ser repreendido. Não vou mais apoiar esta atividade”, ou “Meus familiares que não praticam me criticam por participar das atividades. Não sei o que faço”.

7 — PRAZER

Indica os prazeres do corpo e da mente. Refere-se a qualquer tipo de atividade prazerosa que desvie a pessoa da prática correta. Exemplos: “Agora vai passar aquele programa que eu gosto na televisão. Depois eu faço o Gongyo”, ou “Hoje tem atividade, mas o pessoal me convidou para jogar bola. Será que vou?”

8 — SOFRIMENTO

Refere-se ao sofrimento físico e espiritual. Ocorre quando somos submetidos à tensão física ou mental, desanimando-nos a perseverar na prática da fé. Exemplos: “Devido a um grave problema de doença em minha família no momento, não tenho condições de praticar”, ou “Meus sofrimentos são tão grandes que a prática da fé não irá solucioná-los.”
 
Publicado em: Brasil Seikyo - Ed.2053 - Caderno de Estudo - Pg.B1 - 25/09/2010